sábado, 28 de janeiro de 2012

Cavaleiros do Pecado - O legado dos Almeida.

Resolvi mostrar aqui um pedacinho do meu livro... Espero que gostem... 

Capitulo um: O filho pródigo
“Todos têm uma estrada. E não importa se gostamos ou não, ela é nossa casa e não podemos sair ou desviar o caminho”
-Os Almeida-
Naquele ano como nos outros, antes dos maridos partirem para o mar, de terem o barco como casa e as águas como jardim. Os moradores do pequeno vilarejo de Anju pediam por uma boa pesca com uma grande festa.
A festa da boa pesca como era conhecida, era a maior alegria do povo de Anju. As quituteiras preparavam seus melhores bolos, inúmeros tipos de peixe, legumes e a musica típica do reino embalava a esperança de uma boa temporada. As crianças preparavam bandeirolas coloridas que eram espalhadas por todas as moradias e ensaiavam uma bonita dança que era apresentada aos seus pais, estes se uniam para preparar uma enorme fogueira que era colocada no lugar mais alto do vilarejo, a fogueira deveria ser acesa na ultima noite antes do retorno dos pescadores para guiá-los de volta ao lar.
 Esta era talvez a única data em que todos no vilarejo se reunião e, certamente, o único motivo pro triste Luiz de Almeida deixar o conforto de sua casa e a companhia dos livros para se encontrar com as pessoas das quais era líder e fonte de confiança.
Em gerações passadas os Almeida foram fieis subordinados do rei daquelas terras. Grato pelos serviços prestados, o rei disponibilizou para o pai de Luiz a terra onde posteriormente foi erguido o vilarejo de Anju. Subitamente a fertilidade do local e o excelente acesso para o mar atraiu pessoas de todo o reino, assim, o vilarejo se tornou forte e produtivo em pouco tempo.
Luiz era um homem de meia altura e idade elevada, magro mas forte. A enorme barba e o cabelo despenteado, ambos brancos como a neve, escondiam seu rosto deixando apenas lábios e olhos tristes à mostra. Sob os ensinamentos do pai, Luiz sempre foi o melhor que Anju poderia ter: um líder firme e honesto. Porém com a morte da esposa no nascimento do filho mais novo, Luiz se afastou do mundo e abriu mão da própria vida, até mesmo quando deixava seu refugio, sua tristeza era evidente na sua face fechada.
Luiz vestia trapos, incompatíveis com sua posição, e tão logo chegava a festividade era cumprimentado por todos ao redor. O Sr. Almeida os atendia com a educação necessária, mas não conseguia esconder que não queria estar ali, principalmente de seus filhos, Lucas o mais velho e Carlos.
Lucas era o filho dos sonhos, obediente e determinado, sempre seguiu cegamente as ordens e conselhos do pai, bons ou ruins. Dedicou sua vida a fazenda da família, como era vontade de Luiz. Fato peculiar era que sempre que passava por um dos anciões do vilarejo, o jovem era confundido com seu avô, andava sempre bem vestido, era alto e tinha o mesmo queixo fino e membros alongados.
Carlos era o extremo oposto do irmão, era rebelde e não se importava com os planos do pai. Nunca se interessou por nenhum trabalho em particular, mas repudiava o trabalho no campo pelo único motivo de ser uma das paixões de Luiz. Sua rebeldia combinada com o rosto perfeito com os traços da mãe e o corpo definido deixavam Carlos irresistível aos olhos das adolescentes.
Enquanto Luiz atendia os moradores mais velhos, Lucas confraternizava com seus colegas de trabalho e Carlos conversava com seu melhor e talvez único amigo, o desconhecido Mateus. Um garoto de cabelos volumosos caindo sobre os olhos e pele pálida como a de um fantasma.
 Os garotos falavam sobre o assunto preferido de Carlos, a maravilhosa vida na cidade e todas as oportunidades que haviam por lá, as mulheres e a curtição.
- Anju é comum e previsível demais Carlos, as crianças sempre brincando e aprendendo com os mais velhos, as mulheres cuidando dos afazeres domésticos e sem contar que, agora quando os homens vão para o mar, o lugar fica morto, parecendo um cemitério. Olhe para estas casas simples, de madeira e palha, esse chão de terra. Anju é um bom lugar sim meu amigo, para se morrer.
Carlos sempre sonhou como seria a vida em uma cidade, mas embora fosse rebelde desde sempre, não tinha coragem de desafiar o pai a esse ponto.
Luiz recebia entre elogios e cumprimentos, pedidos dos mais diversos. Desde um pouco de trigo até dinheiro vivo, os quais ele nunca negava. O Sr. Almeida possuía um dos maiores corações de toda a criação e amava Anju tanto quanto aos próprios filhos, porém a morte da esposa o deixou fraco e sem esperança, a mulher era sua conselheira, seu apoio e conforto. Porém, a morte da Sra. Almeida não afetou apenas Luiz, Lucas também sentiu monstruosamente a morte da mãe, era um garoto feliz de sete anos quando a tragédia aconteceu e, perder a mãe e a atenção do pai é algo grande demais para uma criança suportar. Carlos cresceu acostumado com aquela vida e embora não fosse justo, se adaptou facilmente.
O momento mais fantástico da festa da boa pesca era a despedida dos pescadores. Seus filhos e esposa ficavam a frente dos barcos segurando uma vela para indicar o caminho na escuridão da noite, os homens que voltavam de casa com seus pertences se aproximavam com lagrimas nos olhos. Cada criança entregava a seu pai um presente, feito a mão, que geralmente era uma replica do barco, para que se lembrassem da família durante aqueles vários dias no mar. As famílias oravam individualmente e depois os pescadores partiam certos de que tinham excelentes motivos para voltar ao lar.

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